Na primeira gestação, aguardava cada um deles com muita atenção. Como
será que nossa menina crescia? O que viria pela frente? Passava horas contemplando
o crescimento lento da barriga da mãe e me perdia em pensamentos. Os boletins
me traziam informações novas, que estimulavam minha imaginação e me faziam
entrar em contato com esse mundo subaquático que a pequena Teresa habitava.
Agora, fico feliz quando minha caixa de correio traz uma nova história e
consigo ler – como nessa hora do almoço. Essa décima terceira semana chega com
o pai sabendo que “o útero já cresceu o suficiente para deixar claro que aquela nova barriguinha é mesmo de gravidez. Mesmo assim, seu bebê ainda é bem pequeno, mais
ou menos do tamanho de meia banana".
Apesar disso, se pudesse enxergar dentro do
útero agora, eu veria um bebê formado, até com impressões digitais nos dedos. Bom saber que esta nova fase da gravidez é mais
tranquila, afinal a parte mais difícil de desenvolvimento do bebê ficou para
trás. Bom saber que os enjoos da mãe vão diminuir e bom saber que a coisa
continua correndo bem.
Lendo, me toquei
que não estou curtindo essa barriga – que já desponta linda em casa – da maneira
que gostaria. Entre lápis, pinturas, bonecos, cama nova, brinquedos, leitura de
livros, gibis, mamadeiras, banhos, fraldas e naninhas – muitas vezes minhas
antes de Teresa –, não me perdi no simples ato da observação. Não tenho mais
tempo para ser voyeur. De vez enquanto, no meio do furacão, vejo essa bela
barriguinha despontar e sorrio feliz – uns segundos depois, envolto na
tranquilidade do olho da tempestade, entro em desespero com o pensamento: como
será que vai ser com dois?
Bom, isso logo
passa. Com dois, vai ser pelo menos duas vezes mais caótico e duas vezes mais
legal. Dormindo na cama do lado da Teresa nesse sábado, me peguei cheio de vontade de que o berço se encha mais uma vez. E que logo cheguem o beliche, as prateleiras do chão ao teto, as bancadas de estudos e, principalmente, o companheirismo que
só irmãos têm.
Enquanto isso, vou aproveitando os pequenos momentos de contemplação e torcendo para que esse descaso por falta de
tempo não cause nenhum trauma ao irmão de Teresa. E que no futuro, ele não use
o que venho escrevendo para me condenar como pai, ou que essas linhas não
provoquem os anos de análise que terei que pagar ao meu segundo filho.