Alguém consegue me explicar por que é tão difícil encontrar um médico que tenha paixão por parto normal? Somos filhos de mães de parto normal e a mãe está disposta a vivenciar a dor do nascimento, mas encontramos dificuldade de achar um obstetra que garantisse que tentaria o parto normal e nos passasse segurança.
Em 2010, o Ministério da Saúde registrou 52% dos partos brasileiros como cesarianas. Pela primeira vez no Brasil, o número de cirurgias passou o número de partos normais. Esse número é ainda mais grave quando vemos que na rede privada de saúde o índice de cesáreas é de 82% - em alguns hospitais, esse número beira os 100%. Vale destacar que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda uma taxa em torno de 15% dos partos.
Será que quase todas as mulheres não querem sentir a dor do parto? Será que todas tiveram problemas no parto? Como nascia tanta gente antes dos médicos? A prática do parto como um evento hospitalar “nasce” na metade do século XX. Por que estamos fazendo tantas cesáreas?
Muitos são os fatores: comodidade, estética, a dor do parto, o medo do parto normal machucar o bebê, a possibilidade de falta de vagas nos hospitais e até a violência urbana. É assustador saber que quase a totalidade das mulheres que tem plano de saúde faz cesárea. Isso rende mais ao plano. Mais assustador é saber médicos cobram mais pelo parto normal, já que o “trabalho” é maior. Vamos para o prático e rápido, assim fica mais barato.
Mais grave é saber que existem pessoas pensando "nem chegou a hora, mas quero marcar o parto porque não tenho tempo para esperar a natureza". As intervenções chamadas de “cesáreas eletivas” , em que a mãe agenda o dia do nascimento e o bebê nasce sem que ela entre em trabalho de parto, são comuns no Brasil. Só que essa prática pode provocar problemas com o aumento de recém nascidos em UTIs devido a prematuridade e o baixo peso do feto. Um estudo realizados em 3 cidades brasileiras, em 1994, revelou taxas de cesariana de 50,8% em Ribeirão Preto; 33,7% em São Luiz (1997-1998), e 45,4% em Pelotas (2004). A proporção de prematuridade foi de 12,5%, 12,6% 15,3%, e de baixo peso ao nascer 10,7%, 7,6% e 10%, respectivamente.
Outra razão apontada pelo Ministério da Saúde para o elevado número de cesarianas se dá pela relação assimétrica entre médio-paciente, que dificulta a participação da mãe nas escolhas do parto. E é esse tipo de relação que estamos procurando. São muitas as histórias de médicos que dizem que fazem o parto normal e, encontrando um problema no caminho, partem para a cesariana. E queremos alguém que nos passe segurança.
Não somos adeptos ao parto na banheira, em casa, na sala de estar, com incensos e músicas indianas. Não é isso que procuramos. Sabemos que em vários casos, os riscos à criança e a mãe levam a uma inevitável cirurgia.
Várias amigas, que queriam ter filho de parto normal, passaram por isso. É do jogo. Só queremos ter a certeza de que vamos encontrar um médico que esteja disposto a enfrentar 12 horas de trabalho duro e não uma cirurgia de 2 horas. Que tente o que é possível e que não minta para nós, só para sair mais cedo do trabalho.
Ainda bem que temos uma rede de amigos e, na segunda-feira passada, encontramos uma médica pronta para enfrentar o parto do nosso lado. Mãe segura, pai seguro e um pouco mais prontos para as surpresas da sala de parto.