segunda-feira, 2 de março de 2015

Os boletins semanais

Na primeira gestação, aguardava cada um deles com muita atenção. Como será que nossa menina crescia? O que viria pela frente? Passava horas contemplando o crescimento lento da barriga da mãe e me perdia em pensamentos. Os boletins me traziam informações novas, que estimulavam minha imaginação e me faziam entrar em contato com esse mundo subaquático que a pequena Teresa habitava.

Agora, fico feliz quando minha caixa de correio traz uma nova história e consigo ler – como nessa hora do almoço. Essa décima terceira semana chega com o pai sabendo que “o útero já cresceu o suficiente para deixar claro que aquela nova barriguinha é mesmo de gravidez. Mesmo assim, seu bebê ainda é bem pequeno, mais ou menos do tamanho de meia banana". 

Apesar disso, se pudesse enxergar dentro do útero agora, eu veria um bebê formado, até com impressões digitais nos dedos. Bom saber que esta nova fase da gravidez é mais tranquila, afinal a parte mais difícil de desenvolvimento do bebê ficou para trás. Bom saber que os enjoos da mãe vão diminuir e bom saber que a coisa continua correndo bem.

Lendo, me toquei que não estou curtindo essa barriga – que já desponta linda em casa – da maneira que gostaria. Entre lápis, pinturas, bonecos, cama nova, brinquedos, leitura de livros, gibis, mamadeiras, banhos, fraldas e naninhas – muitas vezes minhas antes de Teresa –, não me perdi no simples ato da observação. Não tenho mais tempo para ser voyeur. De vez enquanto, no meio do furacão, vejo essa bela barriguinha despontar e sorrio feliz – uns segundos depois, envolto na tranquilidade do olho da tempestade, entro em desespero com o pensamento: como será que vai ser com dois?

Bom, isso logo passa. Com dois, vai ser pelo menos duas vezes mais caótico e duas vezes mais legal. Dormindo na cama do lado da Teresa nesse sábado, me peguei cheio de vontade de que o berço se encha mais uma vez. E que logo cheguem o beliche, as prateleiras do chão ao teto, as bancadas de estudos e, principalmente, o companheirismo que só irmãos têm.

Enquanto isso, vou aproveitando os pequenos momentos de contemplação e torcendo para que esse descaso por falta de tempo não cause nenhum trauma ao irmão de Teresa. E que no futuro, ele não use o que venho escrevendo para me condenar como pai, ou que essas linhas não provoquem os anos de análise que terei que pagar ao meu segundo filho.

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